Anais EnAJUS 2023

ISSN 2674-8401

Além das Aparências: o Valor Oculto da Educação Corporativa no STJ

Autoria: Iraci Gonçalves Guimarães, Mariana Camargo Rocha, Janaina Marques Alves, Taina Saraiva Eduardo, Antônio Alves Monteiro Júnior

Prêmio Tomas de Aquino Guimarães - Categoria Relatório técnico

Informações

Sessão 2 - 23/10/2023, 14:00
Mediação: Ana Carla Werneck (Administração da Justiça (AJUS))

Resumo

 Introdução: Organizações são dependentes da motivação, do comprometimento e da capacidade das pessoas de se mobilizarem em busca de resultados. Ao mesmo tempo, essa mesma organização se responsabiliza em apoiar o desenvolvimento e a adesão das pessoas. Nessa lógica, lidar com as pessoas passou a ser fundamental nas organizações (Chiavenato, 2010). As organizações contemporâneas enfrentam constantes mudanças impulsionadas por fatores internos e externos, como demandas sociais, políticas, avanços tecnológicos, mercado e contexto econômico. Essas mudanças geram lacunas de competências e afetam processos, procedimentos e relações humanas. Preparar as pessoas para lidar com mudanças é essencial. As organizações públicas, que também enfrentam cobranças crescentes sobre seus desempenhos e resultados, são afetadas por mudanças sociais, políticas e tecnológicas, que demandam delas adaptação e flexibilidade. Diante disso, suas competências devem ser amplas e abrangentes, com planejamento de médio e longo prazo, e ao mesmo tempo com ações de curto prazo, para acompanhar as transformações (Cobucci et al, 2013; Monetzano et al, 2019). Um dos desafios no serviço público é transformar procedimentos burocráticos, em que a hierarquia é valorizada, em processos flexíveis, criativos e inovadores. Portanto, as ações de educação corporativa não devem apenas preencher lacunas de conhecimento e comportamento, mas também antecipar demandas futuras, compreender contextos prospectivos e alinhar-se às estratégias organizacionais. O Centro de Formação e Gestão Judiciária do Superior Tribunal de Justiça (STJ):Em 2018, o STJ criou a Escola Corporativa com o objetivo de fortalecer a educação corporativa e contribuir para a efetividade organizacional. Essa área era vinculada à Secretaria de Gestão de Pessoas, e passou a ser realocada na Presidência do STJ. Essa iniciativa foi respaldada por resoluções do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que destacam a importância do desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e competências dos servidores do Poder Judiciário. Além disso, a Política de Gestão de Pessoas do STJ, estabelecida em 2017, definiu princípios e diretrizes para ações de educação corporativa. Em sua criação, a escola já tinha projeto pedagógico institucional, que estabeleceu princípios e diretrizes, como educação permanente, educação de adultos, aprendizagem coletiva e interativa, aprendizagem dialógica, abordagem sistêmica, aprendizagem aberta e educação inclusiva. Atualmente, são utilizadas diversas metodologias e práticas, como aulas presenciais, a distância (síncronas ou assíncronas), autoinstrucionais e híbridas. E são oferecidas bolsas de estudos para especialização, idiomas, além de capacitação para ambientação de novos servidores, reconexão tecnológica e desenvolvimento comportamental. Há também avaliação de impacto, estruturação de trilhas de aprendizagem, estudos e pesquisas. As ações de educação corporativa têm como objetivo desenvolver valores, competências gerais e administrativas, competências jurídicas, competências gerenciais e cidadania organizacional.  O planejamento das ações, que tem por base diversos insumos, principalmente a gestão por competências, é feita por meio de encontros com os gestores para discutir as necessidades educacionais de cada unidade do Tribunal. Esse planejamento é representado visualmente como uma árvore do saber, em que cada ramo atende um processo da organização.Mudança de estrutura e busca de efetividade: Em 2020, o STJ propôs um conjunto de iniciativas para o biênio 2020-2022, focando em três dimensões: tecnologia e inteligência artificial, governança e comunicação com a sociedade. No âmbito da governança, foi estabelecido programa de modernização administrativa com ações inovadoras para aumentar eficiência operacional e sustentabilidade, que demandou nova estrutura na escola corporativa, que passou a ser o Centro de Formação e Gestão Judiciária (CEFOR). Durante o projeto, foram realizadas análises de diversas ações, mapeamento de competências e 14 processos de trabalho, que incluíam: planejamento, alinhamento e indicadores estratégicos, consultoria interna, plano instrucional, inovação, contratação de capacitação, suporte e execução de capacitação interna, pagamento e encerramento de capacitação interna, avaliação de cursos, educação a distância, programas de bolsas e pós-graduação, concessão de horas gerenciais e de capacitação, e gestão por competências. Atualmente, o CEFOR está vinculado à Diretoria-Geral do Tribunal e possui seis seções, um núcleo de apoio administrativo e um núcleo de gestão por competências. Resultados básicos da educação corporativa: Essa mudança na estrutura, vinculado diretamente à Alta Administração, teve um impacto positivo no planejamento, estruturação e execução das ações de educação corporativa. Houve um aumento de aproximadamente 11% no número de cursos e 13% no número de turmas entre 2019 e 2022. No entanto, durante o período de 2020 e 2021, em que ocorreu pandemia do Covid-19, houve uma diminuição na participação dos servidores em ações de educação corporativa, com uma queda de 15%. Isso pode ser atribuído às condições de trabalho remoto, às responsabilidades familiares e à adaptação às restrições impostas pela pandemia. Apesar da baixa participação, os dados indicam que o CEFOR aumentou sua produtividade, o que sugere que a reestruturação das seções teve um impacto positivo nas ações de educação corporativa.Lições, percalços e esperanças da educação corporativa: Além dos benefícios tangíveis e mensuráveis, como o acompanhamento de metas e o controle de orçamento, há valores ocultos na educação corporativa que são fundamentais para o desenvolvimento da organização, que incluem desenvolvimento de competências técnicas e comportamentais dos servidores e gestores, promoção da inovação e da adaptação por meio do aprendizado contínuo, programas de coaching e mentoria, e melhoria da imagem do Tribunal, transmitindo um comprometimento com a excelência e a qualificação dos serviços prestados à sociedade. Na Administração Pública, especialmente no Judiciário, há desafios específicos a serem enfrentados, tais como uma cultura organizacional resistente a mudanças, metas e prazos que podem dificultar a participação em programas de capacitação, diversidade de perfis e necessidades, contingenciamento orçamentário, mudanças na legislação, desvios na avaliação de competências e desempenho. Algumas lições aprendidas no processo da educação corporativa do Tribunal incluem a realização de estudos para mudança da unidade de educação corporativa, mostrar resultados concretos para a Alta Administração, aumentar parcerias com instrutores internos e pessoas-referências, utilizar a tecnologia como facilitadora, promover a aprendizagem contínua, melhorar a comunicação das ações de educação corporativa, fornecer um banco de informações e conhecimento, e estabelecer acordos de cooperação e parcerias estratégicas com outras organizações públicas e instituições educacionais. Ao reconhecer e explorar o valor oculto da educação corporativa, as organizações públicas fortalecem sua capacidade de transformação e se posicionam como agentes de mudança para uma gestão pública mais eficiente e moderna. Referências:  Chiavenato, I. (2010). Gestão de Pessoas: O novo papel dos recursos humanos nas organizações. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier. Cobucci, G., Coelho Junior, F. A., & Faiad, C. (2013). Mapeamento de competências administrativas e de gestão em uma fábrica de softwares no Distrito Federal. Aletheia, 42, 106-121. Recuperado de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942013000300010 Montezano, L., & Silva, B. M. (2018). Implementação da gestão por competência na justiça eleitoral. ANAIS do Encontro de Administração de Justiça – ENAJUS, 24 e 25 de abril, Brasília – DF. Recuperado de  https://www.enajus.org.br/2018/assets/sessoes/042_EnAjus.pdf?cache=false.  

Palavras-chave

Educação Corporativa; Centro de Formação; Pessoas; Efetividade
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