Anais EnAJUS 2024

ISSN 2674-8401

Para Além de Mitos: Panorama da Representação Feminina na Liderança da Polícia Federal

Autoria: Keila Roberta Mendonça Tavares, Lucilene da Ressurreição Santos, Francisco Antonio Coelho Junior

Informações

Sessão 07 - 26/11/2024, 14:00
Mediação: Laís Karla da Silva Barreto (Universidade Potiguar)

Resumo

O presente estudo explora a representatividade feminina na Polícia Federal (PF) do Brasil e seus reflexos nos cargos mais altos e estratégicos da organização, reforçando o potencial das políticas afirmativas para uma gestão inclusiva e representativa, em consonância com o Objetivo 16 de Desenvolvimento Sustentável (ODS 16) da Agenda 2030 da ONU, que visa promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. Historicamente, a segurança pública é majoritariamente ocupada por homens, o que pode limitar perspectivas na tomada de decisão e criação de políticas públicas voltadas às demandas femininas (Vaz, 2013). A justificativa reside na necessidade de compreender a dinâmica da liderança feminina na PF, explorando desafios enfrentados pelas mulheres na segurança pública. A relevância está na busca por compreender questões de gênero em organizações policiais, a partir de métodos e técnicas científicas, à medida em que se faça possível fornecer subsídios para políticas e práticas mais inclusivas, além de inspirar debates sobre liderança e formulação de políticas públicas igualitárias neste campo. O objetivo geral é descrever o atual panorama da liderança feminina na PF, com vistas a identificar padrões, desafios e oportunidades que sirvam à administração pública brasileira para formulação e implementação de políticas públicas. Os objetivos específicos são: 1) identificar barreiras enfrentadas por mulheres para alcançar posições de liderança na PF; 2) descrever quantitativamente a representação feminina em diferentes níveis hierárquicos e funções de liderança; 3) propor uma agenda de pesquisas futuras sobre o tema. A liderança feminina aborda complexidades e desafios enfrentados pelas mulheres que buscam posições de poder em organizações e na política (Rampelotto & Rodrigues-Beatriz, 2022). Alguns conceitos como 'teto de vidro' e 'labirinto' são usados como metáforas de barreiras invisíveis que limitam a ascensão das mulheres em sua trajetória profissional (Barreira, 2022; Vaz 2013). por sua vez, a Teoria da Representação Burocrática pressupõe que uma burocracia representativa da diversidade populacional promove igualdade de oportunidades e políticas públicas menos enviesadas (Meier, 2019). Assim, uma maior participação feminina em cargos estratégicos aumenta a probabilidade de representação de interesses e perspectivas das mulheres nas decisões (Riccucci & Ryzin, 2016). Realizou-se revisão integrativa sobre liderança feminina em organizações policiais e análise documental. A revisão utilizou os termos 'mulheres na segurança pública', 'mulheres na gestão policial', 'liderança feminina na segurança pública', 'liderança feminina em organizações de segurança pública' e 'liderança feminina na gestão policial' nas bases Scopus, ScienceDirect, Proquest, Spell, Scielo e Google Scholar, de 2008 a 2023. Após triagem, 6 publicações foram analisadas. Também foram coletados dados sobre o quantitativo atual de mulheres em funções de chefia nos diferentes níveis hierárquicos da PF, a partir de bases de dados oficiais, como o observatório de pessoal, cruzando-se com dados de publicidade interna disponibilizados nos boletins de serviços. Os resultados da revisão e análise documental subsidiaram a descrição de um panorama da representação feminina nas funções de liderança institucionais. Assim, tem-se que 18,1% dos cargos de liderança da PF são ocupados por mulheres, frisando-se que representam 18,3% do efetivo total. Na carreira policial, esse percentual cai para 14%, ao passo em que nas investiduras do Plano Especial de Cargos da PF, internamente delimitados como cargos administrativos, as mulheres representam 43,2% do efetivo, percentual maior que a média do poder executivo federal de 41,5%. A cultura organizacional masculinizada e estereótipos de gênero são apontados como principais obstáculos (Lopes et al, 2023; De Almeida et al, 2017). As líderes demonstram resiliência e contribuem para transformações na cultura interna, trazendo competências de empatia e inclusão que impactam positivamente a gestão (Fialho et al., 2020). Iniciativas recentes, como a meta de 1/3 de mulheres nas chefias de superintendências, sinalizam avanços. Contudo, superar o 'teto de vidro' exige um compromisso sustentado com ações afirmativas (Sales et al., 2023). Ampliar a participação feminina na PF, e por sua vez sua representação nos cargos de liderança, mostra-se fundamental para uma gestão mais representativa e alinhada às demandas sociais. É necessário um conjunto articulado de medidas: 1) Política formal de equidade de gênero com metas; 2) Programas de mentoria e capacitação gerencial para mulheres; 3) Maior participação feminina na governança interna; 4) Transparência nos processos de designação para cargos; 5) Monitoramento de indicadores de diversidade. Sugere-se uma agenda de estudos futuros para: mapear longitudinalmente a evolução da participação feminina na hierarquia; investigar facilitadores e barreiras à ascensão; comparar desafios com outras organizações; examinar diferenças geracionais nas trajetórias e estilos de liderança; e avaliar o impacto da presença de líderes mulheres sobre políticas sensíveis a gênero na PF. REFERÊNCIASBarreira, J. (2022). Mulheres em cargos de liderança no esporte: rompendo o teto de vidro ou percorrendo o labirinto? Movimento, 27, e27080.De Almeida et al. (2017) Agentes penitenciárias: o exercício da liderança no masculino. Revista de Estudos Organizacionais e Sociedade, 4(9), 159-194.Fialho, C. B. et al. (2020). Empoderamento e gênero: um estudo com mulheres que ocupam cargos de gestão em uma universidade federal. Revista Gestão & Conexões, 9(1), 103-126. Lopes et al. (2023). Mito ou realidade? A (im)possibilidade do exercício da atividade policial por mulheres. Ponto-e-Vírgula: Revista de Ciências Sociais, (33).Meier, K. J. (2019). Theoretical frontiers in representative bureaucracy: New directions for research. Perspectives on Public Management and Governance, 2(1), 39-56.Rampelotto, A., & Rodrigues-Beatriz, M. B. (2022). Liderança feminina no setor público federal brasileiro: a realidade do poder executivo sob os olhares de uma revisão semissistemática. Revista Estudos Feministas, 30(2).Riccucci, N. M. & Van Ryzin, G. G. (2016). Representative Bureaucracy: A Lever to Enhance Social Equity, Coproduction, and Democracy. Public Administration Review, 77(1), 21-30.Sales, T. S. et al. (2023). Feminismo, política e democracia: as mulheres e os caminhos de poder. Editora Dialética.Vaz, D. V. (2013). O teto de vidro nas organizações públicas: evidências para o Brasil. Economia e Sociedade, 22, 765-790.

Palavras-chave

Representatividade; Liderança; Gênero; Segurança Pública
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