Anais EnAJUS 2024
ISSN 2674-8401
Pedagogia Sistêmica no Presídio Feminino Madre Pelletier: Reabilitação e Transformação
Autoria: Lizandra Cericato
Prêmio Tomas de Aquino Guimarães - Categoria Trabalho empírico
Informações
Sessão 09 - 26/11/2024, 16:00
Mediação: Daniela Lustoza Marques de Souza Chaves (TRT da 21ª Região)
Resumo
Introdução Este artigo explora a aplicação da Pedagogia Sistêmica em um presídio feminino, investigando as mudanças no comportamento das mulheres encarceradas e suas percepções de passado, presente e futuro. Utilizando métodos quantitativos e qualitativos, a pesquisa envolveu a aplicação de questionários e a realização de oficinas semanais. O objetivo é identificar métodos eficazes de tratamento penal que promovam a reabilitação e a prevenção da reincidência criminal. Justiça e Pedagogia Sistêmica A Justiça desempenha um papel essencial no equilíbrio das relações sociais, com a tarefa de compreender e atender às necessidades individuais. Tradicionalmente, a formação na Magistratura focava na aplicação de conceitos jurídicos para resolver litígios, mas essa abordagem está evoluindo para incluir a compreensão dos fatores emocionais e internos que influenciam os conflitos. Muitas vezes, decisões judiciais resolvem apenas o processo, mas não tratam dos conflitos subjacentes. Portanto, é necessário buscar uma compreensão mais profunda dos fatores que formam o núcleo dos conflitos, tratando o indivíduo de forma integral. Essa abordagem é aplicável em diversas áreas das ciências sociais, incluindo a análise do comportamento humano e a reincidência criminal. Técnica Sistêmica A Pedagogia Sistêmica baseia-se na técnica desenvolvida por Bert Hellinger, que propõe a compreensão das dinâmicas familiares e suas influências no comportamento individual. Esta técnica inclui conceitos como pertencimento, hierarquia e equilíbrio nos relacionamentos. Pertencimento refere-se ao direito igual de todos os membros da família ocuparem seu lugar no sistema; hierarquia considera a ordem e precedência determinadas pelo tempo e função de cada membro na família; e equilíbrio trata da reciprocidade entre dar e receber. Essas dinâmicas são aplicáveis a sistemas familiares, institucionais e sociais. Aplicação Prática no Presídio A pesquisa foi realizada em um presídio feminino com a participação de 27 mulheres. As oficinas sistêmicas abordaram temas como consciência, crenças, transferências emocionais, traumas inconscientes e autossabotagem, facilitadas por uma psicóloga e consteladora. Essas oficinas tiveram duração de duas horas semanais durante quatro meses. Os resultados mostraram melhorias significativas na forma como as participantes vêem a vida e suas relações familiares. As oficinas integraram conhecimentos e vivências sobre postura sistêmica, estados de consciência, crenças e traumas inconscientes, contribuindo para a autorreflexão e mudanças comportamentais positivas. Metodologia da Pesquisa A pesquisa utilizou um questionário com oito perguntas objetivas e uma questão aberta para captar as impressões das participantes. As questões incluíram temas como mudanças na percepção de vida, relações familiares, vontade de fazer novas escolhas e sentimentos mais difíceis de superar. Os dados foram coletados em dois momentos: após a 6ª e a 12ª oficinas. Análise dos Resultados Os gráficos gerados a partir das respostas mostraram que 96% das participantes sentiram mudanças positivas no modo de ver a vida, e 88% perceberam uma nova forma de ver o passado. Além disso, 100% das participantes relataram melhorias nas relações familiares difíceis e expressaram vontade de fazer novas escolhas de vida. A pesquisa também indicou que 100% das mulheres sentiram alguma melhora e que o projeto as ajudou a superar sentimentos difíceis como tristeza, medo, ansiedade e saudade. Frequência e Participação A média de frequência nas oficinas foi elevada, indicando um bom engajamento das participantes. A pesquisa destacou a importância da boa gestão administrativa e do incentivo à participação das agentes penais, que contribuíram significativamente para o sucesso do programa. A organização interna de cada estabelecimento penal e a capacidade de movimentar as presas das galerias até o local das atividades são fatores críticos para a regularidade das participações. Uma cultura de conscientização das agentes penais sobre a responsabilidade estatal na execução de ações para a recuperação de pessoas condenadas à pena privativa de liberdade propicia uma frequência elevada e maior eficácia das ações educacionais. A Pedagogia Sistêmica, ao abordar a integralidade do ser humano, busca tratar não apenas os sintomas aparentes, mas as causas profundas dos comportamentos que levam à criminalidade. Este enfoque permite uma abordagem mais humanizada e eficaz na reabilitação de indivíduos, considerando suas histórias de vida e contextos familiares. A aplicação prática dessa pedagogia no presídio feminino revelou-se eficaz em proporcionar um ambiente de reflexão e autoconhecimento, essencial para a mudança comportamental. Conclusão A Pedagogia Sistêmica mostrou-se uma ferramenta eficaz para a reeducação penal, proporcionando melhorias significativas na autoestima, confiança e motivação para novas escolhas de vida entre as participantes. A metodologia adotada foi adequada, mesmo considerando o baixo nível de instrução médio das condenadas. A pesquisa sugere que a adoção de práticas sistêmicas no sistema penal pode contribuir para uma redução significativa da reincidência criminal, promovendo uma reabilitação social mais eficaz. A tomada de consciência em nível sistêmico gera mudanças internas e motiva para novas posturas diante da vida, impactando positivamente na redução da reincidência penal. As autoridades responsáveis devem garantir os meios estruturais para a permanência e efetividade do programa, que tem mostrado resultados significativos. Os dados desta pesquisa demonstram que a Educação Sistêmica, através de oficinas teórico-vivenciais e um olhar integrativo sobre os fatos da vida, é um meio adequado para promover a autorresponsabilidade e a tomada de consciência sobre padrões viciosos de comportamento. Esse processo gera movimentos positivos, como o resgate da autoestima, confiança, valorização, força interior, autovalor nas relações interpessoais e motivação para novas escolhas de vida, contribuindo para uma reabilitação social eficiente. A abordagem sistêmica também destacou a importância da conexão entre a educação e a reabilitação social. As oficinas proporcionaram um espaço seguro para que as mulheres encarceradas pudessem explorar suas emoções e compreender melhor suas ações passadas, permitindo-lhes desenvolver um senso de responsabilidade pessoal e social. Essa transformação interna é essencial para quebrar os ciclos de reincidência e promover uma reintegração bem-sucedida na sociedade. Além disso, a Pedagogia Sistêmica ressalta a importância de uma abordagem colaborativa e multidisciplinar no sistema penal. A inclusão de psicólogos, consteladores e outros profissionais no processo de reabilitação oferece uma rede de apoio mais robusta, capaz de atender às diversas necessidades das presas. A colaboração entre diferentes áreas do conhecimento enriquece o processo educativo e reabilitativo, proporcionando uma abordagem mais completa e eficaz. A pesquisa também sublinha a necessidade de políticas públicas que apoiem e expandam a aplicação da Pedagogia Sistêmica em outros contextos prisionais. É fundamental que os gestores prisionais e as autoridades governamentais reconheçam o valor dessa metodologia e invistam em sua implementação e desenvolvimento contínuo. Por fim, importa destacar que a Pedagogia Sistêmica oferece uma abordagem inovadora e eficaz para a reabilitação de indivíduos encarcerados. Ao focar na integralidade do ser humano e nas dinâmicas familiares e sociais, essa metodologia proporciona um caminho promissor para a transformação pessoal e a reintegração social, contribuindo para uma sociedade mais justa e humanizada.
Palavras-chave
Pedagogia Sistêmica, Reabilitação Penal, Sistema Prisional Feminino, Dinâmicas Familiares, Empoderamento, Hierarquia, Pertencimento, Equilíbrio, Autorresponsabilidade, Reincidência CriminalPDF Todos os trabalhos desta edição