Anais EnAJUS 2024
ISSN 2674-8401
Absenteísmo devido a doenças no Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região (RO e AC)
Autoria: Cristiane Bastos Lopes, Eduardo Morais da Costa, Felypp de Assis Oliveira, Fernanda Antunes Marques Junqueira
Informações
Sessão 08 - 26/11/2024, 14:00
Mediação: Samir Adamoglu de Oliveira (Universidade Federal da Paraíba)
Resumo
Sabe-se que a saúde das pessoas é de extrema importância para a composição de um ambiente agradável, seja na família ou no trabalho. O adoecimento sempre provoca algum transtorno, tanto para o doente quanto para quem esteja à sua volta. Por isso, é essencial que as organizações avaliem as principais causas de adoecimento dos seus colaboradores, pois isso servirá de base para possíveis ações que venham a reduzir o absenteísmo.Conhecendo o impacto do absenteísmo para os servidores, magistrados e a própria instituição, desde janeiro de 2020 este Tribunal acompanha mensalmente, por um painel interno disponível no portal, o quantitativo de ausências devido a LTS (Licença para Tratamento de Saúde) e LTS-PF (Licença para Tratamento de Saúde em Pessoa da Família).Ressalta-se que tais dados são extraídos a partir do sistema de RH, em que os registros são realizados quando o servidor dá entrada no pedido e tem o aceite da área da saúde.Portanto, baseado neste painel, foi realizada uma análise de tais dados, sendo que a Seção 2 avaliou o quantitativo de dias de ausência, e a Seção 3 avaliou o número de licenças.A primeira análise realizada foi em relação aos dias de ausência ao trabalho, identificando-se diminuição ao se comparar os anos de 2019, ano pré-pandemia, e 2023, ano de retorno ao trabalho presencial no TRT14. A análise permitiu verificar que as campanhas e ações voltadas para a saúde mental, além da flexibilização das modalidades de trabalho podem ter exercido papel direto nestes resultados.Em 2020, ano em que iniciou a pandemia, houve uma queda significativa nos dias de licença. No entanto, sabe-se que os servidores e magistrados estavam em trabalho remoto e, por isso, não pode-se afirmar que houve uma redução do adoecimento. Uma hipótese é de que a maioria que adoeceu neste período, não havendo a necessidade de registrar presença física no trabalho, não entrava com o pedido de afastamento e gerenciava o trabalho com a recuperação em casa. Outra hipótese seria o fato do trabalho remoto gerar menos desgaste decorrente do convívio presencial, que tende a ser mais propício ao desenvolvimento de conflitos no ambiente de trabalho, e pelo fato do trabalho a distância permitir uma maior autonomia na organização da jornada de trabalho e na conciliação entre atividades pessoais e do trabalho. Dentro desta visão, o trabalho a distância protegeria mais o servidor do estresse psicossocial do trabalho presencial, embora também traga riscos no médio e longo prazo decorrente do distanciamento presencial dos colegas e devido ao maior uso de ferramentas tecnológicas para a comunicação.Este entendimento pode caracterizar o trabalho a distância como uma modalidade que gera mais qualidade de vida no trabalho, entretanto, também pode indicar o quanto o trabalho presencial apresenta, de forma geral, mais fatores estressores, em especial os psicossociais.Em seguida, foi analisada a estatística dos dias de afastamento em relação às Unidades do TRT14, levantando-se apontamentos importantes que devem ser considerados ao se analisar contextos específicos de trabalho, como o perfil dos trabalhadores, características da rede de serviços da região, condições de trabalho da Unidade e a sua organização.Outra análise relevante foi a que relacionou faixas etárias mais altas ao maior adoecimento, e menor adoecimento aos ocupantes de funções comissionadas, tendo sido discutido então a importância de se intensificar campanhas de saúde para os públicos-alvos mais vulneráveis em dado aspecto, e um olhar cuidadoso em relação ao gestores que eventualmente podem negligenciar seus cuidados de saúde física e mental.Os dados indicam que a partir dos 46 anos os adoecimentos se tornam mais frequentes no Tribunal, assim como na população em geral, sendo uma faixa etária em que as doenças crônicas têm seu surgimento em maior escala, reforçando a necessidade de ações de saúde direcionadas a este público ou nas causas de adoecimento mais comuns a partir desta faixa etária, no sentido de evitar o agravamento das doenças já existentes ou prevenir o seu surgimento, desde as faixas etárias mais jovens.Também foi realizado o teste Qui-Quadrado para avaliar se existe independência entre as variáveis dias de ausência e existência de funções comissionadas, tendo as seguintes hipóteses:H0: A proporção de funções comissionadas (sim ou não) é a mesma para força de trabalho e dias de ausência (são independentes).H1: A proporção de funções comissionadas (sim ou não) é diferente para força de trabalho e dias de ausência (são dependentes). O p-valor do teste foi menor que 0,05, o que leva à rejeição de H0 considerando um nível de significância de 5%, ou seja, pode-se afirmar que a diferença observada nas distribuições de dias de ausência e força de trabalho em relação à existência de função comissionada é significativa estatisticamente.Por fim, na análise dos dias e percentuais de ausência em relação aos principais CIDs de afastamento, foi identificada redução mesmo em relação aos CIDs mais prevalentes, F e M. O entendimento sobre esse resultado foi o mesmo apresentado na primeira análise deste relatório.Diante das análises realizadas, pôde-se perceber que ao longo dos últimos anos houve uma significativa melhora dos indicadores de saúde do TRT14. Embora não se tenha, no momento, ferramentas que demonstrem exatamente quais ações de saúde foram as principais responsáveis, nem quais políticas institucionais de gestão de pessoas foram mais efetivas, há indicativos de que a intensificação das campanhas de saúde mental focadas na melhoria das relações interpessoais no trabalho, e a implementação em larga escala do teletrabalho e do trabalho remoto, podem ter sido responsáveis diretas por estes resultados. A natureza subjetiva da vivência humana no trabalho torna necessário um constante aprimoramento das organizações no que se refere à qualidade de vida e das políticas institucionais que tem o poder de afetar diretamente a experiência do trabalhador. Por isso, a despeito das melhorias percebidas, a organização como um todo deve envidar esforços contínuos e integrados para que se alcance a redução do absenteísmo de forma cada vez mais significativa e consistente ao longo do tempo.
Palavras-chave
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